terça-feira, 24 de maio de 2011

A personagem feminina no Romantismo

               Como já tratado em outras postagens, o Romantismo foi constituído por obras que retratavam o subjetivismo, tendo como um dos assuntos mais frequentes a mulher. No primeiro momento do romântico, a figura feminina é vista como algo distante, idealizado e até mesmo elevado à perfeição. Isso se confirma através desta poesia indicada por Guilianne de autoria de Gonçalves Dias :

Ainda uma vez, adeus (Fragmento)


Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
                      II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!
                      III
Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esperança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!

[...]
                
                 Nota-se nessa poesia que a mulher é retrada como algo que foi distanciado do eu-lírico e que ela está em um grau de elevação, visto principalmente no uso do termo "Curvado aos teus pés". Posteriormente, o Romantismo adquire um estilo mais maduro em relação a visão da mulher. Atitudes ingênuas e idealizações são esquecidas e a figura feminina participa ativamente da experiência amorosa. A mulher passa a ser retratada de maneira sensual e é visível que a mesma sabe  da sua sensualidade, uma vez que em diversos momentos ela a usa como forma de conquista do amado. A representação da mulher mudou conforme a essência romântica mudou. Isso ocorreu porque as gerações de escritores românticos passaram a se aproximar da realidade cada vez mais. Seguem fragmentos de uma poesia de Castro Alves,  em  que a mulher é descrita como um ser corporificado e que usa sua sensualidade:

Boa-noite
 
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio...
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não me digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve.. a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:

"É noite ainda em teu cabelo preto..."
É noite ainda! Brilha na cambraia
– Desmanchado o roupão, a espádua nua –
o globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...
[...]


Abaixo estão os links para quem quiser ler  as poesias completas, respectivamente:

http://cseabra.utopia.com.br/poesia/poesias/0107.html

Fonte: Livro Português Linguagens, William Roberto Cereja e Tereza Cochar Magalhães - Ensino Médio. Páginas 229 a 235 

Postado por: Thayana Maria Navarro Ribeiro de Lima


P.S. Espero ter atendido bem a solicitação de Raquel e de Guilianne. Quem quiser sugerir algum tema para postagem pode pedir.

3 comentários:

  1. A mulher era muito utilizada na época do romantismo, de várias formas. ótimo postagem!
    Carolina Gomes

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  2. Realmente a mulher era muito utilizada mesmo, além de receber um "papel" importante em alguns momentos, elas também muitas vezes eram representadas como uma dádiva dos deuses.

    By.: Lipuxu - Filipe Vaz

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  3. Sim, a mulher tem um papel importante no romantismo concerteza, muitas vezes são elas que inspiram o autor e dão um "ar" melhor ao texto.

    By.: Lauruxinhu - Lauro BRITO ¬¬

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