segunda-feira, 7 de março de 2011

Romantismo: Gonçalves Dias

                  Antônio Gonçalves Dias nasceu no ano de 1823 em Caxias, no Maranhão, e faleceu em 1864.
                  Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, retornando ao Brasil em 1845.
                 Em São Luís fracassa o relacionamento amoroso com Ana Amélia, a quem dedica o poema "Ainda uma vez... Adeus!", por pressões da família dela, já que o poeta era filho de pai português e de mãe mestiça.
                Viajou pelo Brasil e pela Europa a serviço do governo brasileiro.
               Tuberculoso, vai à Europa em 1862 para tratar da saúde; combalido e reduzido à miséria, decidiu voltar, morrendo em naufrágio à vista das costas do Maranhão. Clássico na forma e no estilo, por formação literária, foi, por índole, o poeta das tradições e da alma popular brasileira. Pertenceu à primeira geração do Romantismo Brasileiro. Delicado e melancólico, criou o indianismo romântico, impondo-se como uma das maiores figuras da nossa literatura. É considerado o mais maduro dos românticos brasileiros, o nosso maior poeta romântico. Seus versos encerram eloqüência e unção, lirismo, grandiosidade e harmonia.

Seus Olhos

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, 
          De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
          Do mar vão ferir;
 
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
          Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, - mais doce que o nauta
De noite cantando, - mais doce que a frauta
Quebrando a solidão,
 
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
          De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
          Brincando a sorrir.
 
São meigos infantes, brincando, saltando
          Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; - causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
          Com modo gentil.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
          Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
          Às vezes vulcão!
Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
          Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
          Me fazem chorar.
 
Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
          Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
          Não pensa - a pensar.
 
Nas almas tão puras da virgem, do infante,
          Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
          De pranto co'um véu.
 
Quer sejam saudades, quer sejam desejos
          Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
          Um pranto sem dor.
 
Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
          De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
          Com tanto pudor.
 
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
          Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
          Com tanta paixão. 

(DIAS, Gonçalves. In: Primeiros cantos de Gongalves Dias. Biografia,
vocabulário, comentários, bibliografias por Letícia Malard. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998, p. 51-53 - Leitura Literária, 2) 
 
Fonte: Convite à Leitura de Otoniel Machado da Silva
 
Postado por: Filipe Burity Dias 

Um comentário:

  1. É muito bonita a maneira como ele fala da mulher de forma perfeita, idealizando sua beleza através dos olhos, que expressam sua pureza, perfeição e seus sentimentos.

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