João do Vale, falecido há nove anos em 6 de dezembro, deixou canções com letras fortes e contagiantes que alegram festas e forrós, mas que muita gente desconhece serem de sua autoria. Carcará, Pisa na fulô, Na asa do vento, A voz do povo, Sina de caboclo, “Coroné” Antonio Bento são algumas delas.
João cantou as dificuldades da vida de sertanejo pobre, que conheceu muito bem, e as alegrias e o orgulho de ser compositor/cantor reconhecido e muito querido por colegas de infância e por expoentes da música popular brasileira, como Chico Buarque, Nara Leão, Zé Kéti, Edu Lobo, entre outros.
Nascido em Pedreiras em 1934, interior do Maranhão, começou a trabalhar ainda menino, e aos 13 anos mudou-se para São Luís, onde participou de um grupo de bumba-meu-boi já compondo versos. Depois, já no sul do país trabalhou como ajudante de caminhão, mineiro em Teófilo Otoni e, ao chegar ao Rio em 1950, foi empregado na construção civil, como pedreiro.
Com músicas e letras na cabeça, já que não sabia escrever, começou a freqüentar as rádios com a intenção de mostrá-las a artistas. Em 1950, conseguiu que Zé Gonzaga gravasse Cesário Pinto, que faria sucesso no nordeste. E em 1953, foi apresentado por Luiz Vieira a uma das “rainhas do rádio”, Marlene, que gravou sua Estrela Miúda que, tocada nas rádios, fez sucesso no Rio. João contaria depois que, ao ouvir a música no rádio, comentou com os colegas de trabalho, na obra, que era uma música de sua autoria. Eles duvidaram e lhe disseram que o sol quente estava prejudicando seu juízo.
Dois outros períodos foram muito marcantes em sua carreira. No início dos anos de 1960, conheceu Zé Kéti que o levou para se apresentar no ZiCartola, bar-restaurante de Cartola e Dona Zica que reunia artistas e músicos. Lá foi convidado a participar do show Opinião, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão.
Opinião, idealizado por Vianinha (Oduvaldo Viana Filho), Paulo Pontes e Armando Costa e dirigido por Augusto Boal, estreou em dezembro de 1964, foi assistido por mais de 25 mil pessoas só no Rio de Janeiro, e levado a outros estados, constitui-se num marco de resistência artística ao regime ditatorial vigente no país. Este show, que lançou também Maria Bethânia (que substituiu Nara), com sua marcante interpretação de Carcará, foi relançado anos depois em 1975, com Zé Kéti e Maria Medalha, sob direção de Bibi Ferreira.
No final dos anos 70, comandaria o “Forró Forrado” no Catete, casa de forró, democrática, que reunia um público amplo: estudantes, intelectuais, trabalhadores das obras do metrô. João recebia convidados como Chico Buarque, Edu Lobo, Zé Ramalho, Djavan, sempre animando as sextas-feiras.
Em 1981, com direção de produção de Chico Buarque, Fagner e Fernando Faro, João do Vale grava um belíssimo disco com participações especiais de Chico Buarque, Jackson do Pandeiro, Nara Leão, Fagner, Tom Jobim, Gonzaguinha, Clara Nunes, Zé Ramalho, Amelinha e Alceu Valença, atualmente disponível em CD.
Na década de 1990, vários shows beneficentes, em sua homenagem foram realizados, num período em que João do Vale já não conseguia cantar, devido a sequela de “derrame”. E nesse mesmo sentido, em 1995, Chico Buarque produziu um segundo disco com interpretações também de vários artistas, alguns que já tinham gravado sucessos seus, como Maria Bethânia, Ivon Cury, Luiz Vieira, Marinês, além da participação de Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Alcione, entre outros.
Novas homenagens e resgate de sua história seguiram-se após sua morte, como o livro Pisa na Fulô. O CD Carcarás da Cidade - Um tributo a João do Vale, lançado pelo selo da Prefeitura de Nova Iguaçu, onde João do Vale morou por cerca de vinte anos; João do Vale mais coragem do que homem, de Andréa Oliveira (Edufitia) e o documentário João do Vale – muita gente desconhece, de Werinton Kermes.
Com isso, percebe-se que João de Vale é realmente desconhecido pelo nosso povo brasileiro mas é realmente uma das figuras mais importantes da música popular brasileira, pela sua genialidade ao compor músicas, mesmo sem ter estudado e vê como é rica as suas letras.
Aqui está uma de suas composições:
Minha História
Seu moço, quer saber, eu vou cantar num baião
Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção
Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção
Eu vendia pirolito, arroz doce, mungunzá
Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar (x2)
Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar (x2)
E quando era de noitinha, a meninada ia brincar
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar:
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar(x2)
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar:
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar(x2)
Hoje todo são "doutô", eu continuo joão ninguém
Mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos "doutô", basta pra me sentir bem(x2)
Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz,
Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis
E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz(x2)
Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão,
Que também foram meus colegas , e continuam no sertão
Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião.
Mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos "doutô", basta pra me sentir bem(x2)
Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz,
Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis
E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz(x2)
Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão,
Que também foram meus colegas , e continuam no sertão
Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião.
Portado por: Sílvia Claudino
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