sábado, 30 de abril de 2011

A Fonte da Sorte

Este conto está no livro
 “Os Contos de Beedle O Bardo”.

No alto de um morro, em um jardim encantado envolto por muros altos e protegido por poderosa magia, jorrava a Fonte da Sorte.

Uma vez por ano, entre o nascer e o pôr-do-sol do dia mais longo do ano, um único infeliz recebia a oportunidade de competir para chegar à fonte, banhar-se em suas águas e ter sorte a vida inteira.

No dia aprazado, centenas de pessoas viajavam de todo o reino para chegar ao jardim antes do alvorecer. Homens e mulheres, ricos e pobres, jovens e velhos, dotados ou não de poderes mágicos reuniam-se no escuro, cada qual na esperança de ser o escolhido para entrar no jardim.

Três bruxas, com seus problemas e preocupações, encontraram-se nas cercanias da multidão, e contaram umas às outras suas tristezas enquanto esperavam o sol nascer.

A primeira, cujo nome era Asha, sofria de uma doença que nenhum curandeiro conseguia eliminar. Ela esperava que a fonte fizesse desaparecer os seus sintomas e lhe concedesse uma vida longa e feliz.

A segunda, cujo nome era Altheda, tivera sua casa, seu ouro e sua varinha roubados por um bruxo malvado. Ela esperava que a fonte a aliviasse de sua fraqueza e pobreza.

A terceira, cujo nome era Amata, fora abandonada por um homem a quem amava profundamente, e acreditava que seu coração partido jamais se recuperaria. Esperava que a fonte aliviasse sua dor e saudade.

Apiedando-se umas das outras, as três mulheres concordaram que, se lhes coubesse a chance, elas se uniriam e tentariam chegar à fonte juntas. O primeiro raio de sol rasgou o céu, e uma fresta se abriu no muro. A multidão avançou, cada pessoa exigindo, aos gritos, a bênção da fonte.

Plantas rastejantes do interior do jardim serpearam pela massa ansiosa e se enrolaram na primeira bruxa, Asha. Ela agarrou o pulso da segunda bruxa, Altheda, que segurou com força as vestes da terceira bruxa, Amata.

E Amata se enredou na armadura de um cavaleiro de triste figura que montava um cavalo esquelético. As plantas rastejantes puxaram as três bruxas pela fresta do muro, e o cavaleiro foi derrubado do seu ginete atrás delas.

Os gritos furiosos da multidão desapontada se ergueram no ar matinal, e silenciaram quando os muros do jardim se fecharam mais uma vez. Asha e Altheda se zangaram com Amata, que, acidentalmente, trouxera junto o cavaleiro.

- Apenas um pode se banhar na fonte! Já será bem difícil decidir qual de nós será, sem adicionar mais um!

Ora, o Cavaleiro Azarado, como era conhecido nas terras além-muros, observou que as mulheres eram bruxas e, não sendo ele dotado de magia, nem de grande perícia em torneios e duelos com espadas, nem de nada que o distinguisse como homem não mágico, ficou convencido de que não havia esperança de chegar à fonte antes das três mulheres. Anunciou, portanto, sua intenção de sair do jardim.

Ao ouvir isso, Amata se aborreceu também. 
- Medroso! — ela o censurou. — Desembainhe sua espada, Cavaleiro, e nos ajude a atingir a nossa meta.

E, assim, as três bruxas e o infeliz cavaleiro se aventuraram pelo jardim encantado, onde ervas raras, frutos e flores cresciam em abundância à margem de caminhos ensolarados. Eles não encontraram obstáculo algum até alcançar o sopé do morro em que se erguia a fonte.
Ali, enrolado na base do morro, havia um monstruoso verme branco, inchado e cego. À aproximação do grupo, ele virou uma cara feia e malcheirosa e proferiu as seguintes palavras:

"Paguem-me a prova de suas dores."


Postado por: Maria Luíza Alves de Medeiros

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Augusto de Campos e Haroldo de Campos

      



                                                        Augusto Luís Browne de Campos nasceu em São Paulo, em 1931. Poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e música. Em 1951 publicou o seu primeiro livro de poemas, “O rei menos o reino”.
Em 1952, com seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou a revista literária "Noigandres", origem do Grupo Noigandres que iniciou o movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil. No ano seguinte, foi no segundo número da revista que ele publica uma série de poemas em cores, chamada poetamentos, considerados os primeiros exemplos consistentes de poesia Concreta no Brasil. O verso e a sintaxe convencional eram abandonados e as palavras rearranjadas em estruturas gráfico-espaciais. Sua obra veio a ser incluída, posteriormente, em muitas mostras.
A maioria dos seus poemas acha-se reunida em Viva Vaia, Despoesia e Não, 2003. Outras obras importantes são Poemóbiles e Caixa Preta, coleções de poemas-objetos em colaboração com o artista plástico e designer Julio Plaza. Sei livro e Não receberam o prêmio de Livro do Ano, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional.
        Já Haroldo de Campos publicou mais de 30 volumes, entre sua própria produção poética, ensaios e traduções dos mais importantes autores da literatura mundial. Logo depois de fundar o movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil, Haroldo organizou a primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Entre seus livros mais importantes estão "Servidão de Passagem", "Galáxias", "Xadrez de Estrelas", no campo da poesia, e "Ideograma", "Morfologia de Macunaíma", "A arte no Horizonte do Provável" e "Revisão de Sousândrade", entre livros de ensaio e crítica literária.
Ele foi professor em 1978 na Universidade americana de Yale e em 1990, obteve o título de professor emérito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Haroldo faleceu de falência múltipla dos órgãos.


Fonte: http://www2.uol.com.br/augustodecampos/biografia.htm
            http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u225.jhtm
Postado por: Sílvia Claudino Martins Gomes

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Perfume - Patrick Suskind

Perfume narra a história de Jean-Baptiste Grenouille desde seu incomum nascimento a sua trágica morte. Desde pequeno sofria com os preconceitos da sociedade francesa, pois era filho de uma mulher solteira e ainda possuía uma anomalia, seu aguçado olfato. Em meio a tragédias e rejeições, cresceu um Jean recluso e sem qualquer demonstração de sentimentos, menos quando domado por seu afiado olfato.
Quando levado a Paris para o seu mais novo trabalho, Jean-Baptiste se viu deliciado entre os mais variados aromas e muitas vezes saia a sua procura, enfeitiçado. No dia do aniversário de coroação do Rei, em meio ao forte cheiro da pólvora dos fogos, ele foi atraído por um dos mais distintos e belos perfumes. O perseguiu por vielas e tardou a descobrir que se tratava de uma bela garota ruiva. Aquele foi o primeiro assassinato cometido por Jean, totalmente alheio e enfeitiçado.
A alegria de ter descoberto um perfume tão poderoso e belo, se transformou na ambição de mostrar ao mundo sua divina anomalia e tornar-se o maior perfumista de todos os tempos.
Mais tarde, Grenouille conhece Baldini, um perfumista falido, que surpreendido pelo seu olfato aguçado o ensina tudo o que sabe sobre perfumes, em troca da criação de distintas fórmulas dos mesmos. Com a morte do mais novo “amigo”, Jean se exclui nas montanhas, onde alimentou a sua repulsa e ódio por qualquer contato humano.
Mas acabou por descobrir o seu fardo: Jean, aquele que possuía o maior acervo de aromas e o melhor olfato de todos os tempo, não possuía cheiro algum.
A recente descoberta o enlouquece, e ele decide criar o perfume que lhe tornaria o homem mais poderoso do mundo, mais poderoso que Deus, porém usando de sua frieza para assassinar e extrair a essência de 25 belas mulheres.

“Sim, amá-lo é o que deveriam quando estivessem sob o fascínio do seu cheiro, não apenas aceitá-lo como igual, mas amá-lo até a loucura, até o sacrifício pessoal; deveriam tremer de encanto, uivar e gritar, chorar de prazer, sem saber por quê, cair de joelhos — isto é que deveriam fazer como sob o incenso frio de Deus, só por chegarem a cheirá-lo! Queria ser o Deus onipotente do aroma, como o fora em suas fantasias, mas agora no mundo real e sobre pessoas reais. E ele sabia que isso estava em seu poder. Pois as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas.”

Perfume é um romance pertencente ao movimento Contemporâneo, e a sua temática se difere de qualquer livro que li anteriormente. Considerei o livro um verdadeiro paradoxo, porque retrata a realidade inebriante dos perfumes e se passa em uma das épocas de maior fedentina da França.
Patrick Süskind, ao escrever esse seu primeiro romance, também nos abre as portas para a realidade dos psicopatas. Há horas que, lendo o livro, esquecemos totalmente quem é o verdadeiro assassino e passamos a ter compaixão por Jean, um rapaz altamente complexado desde que nasceu com a rejeição da sua mãe, das amas-de-leite, das crianças do orfanato, até a sua morte, onde sua pessoa ainda era insignificante a todos ao seu redor.
Ao ler a obra, o que mais achei interessante foi poder conciliar com o assunto atual de História, A Consolidação das Monarquias Européias, além de Química e Filosofia. E o único ponto que me desagrada, é a minúcia de detalhes do autor, que às vezes chega a ser bastante cansativa. Mas valido a pena. Quem possuir interesse em ler a obra, eu consegui achá-la apenas disponível para download.  

Download do Livro

Postado por: Laís Costa Guerra

Dica de Filme: Garota, Interrompida

Nome Original: Girl, Interrupted
Ano de Lançamento: 1999 (EUA)
Direção: James Mangold
Elenco: Winona Ryder, Angelina Jolie, Whoopi Goldberg, Brittany Murphy, Vanessa Redgrave, Jared Leto.
Roteiro: James Mangold, Lisa Loomer e Anna Hamilton Phelan, baseado no livro de Susanna Kaysen. 
Produção: Cathy Conrad e Douglas Wick
Trilha Sonora: Mychael Danna
Fotografia: Jack N. Green
Direção de arte: Jeff Knipp
Figurino: Ariane Phillips
Distribuidora: Columbia Pictures/Sony Pictures Entertainment
Gênero: Suspense
Duração: 125 minutos
Sinopse: Winona Ryder interpreta uma garota que vai parar num hospital psiquiátrico em plenos anos 60, onde termina por fazer amizade com outras internadas. Com Angelina Jolie e Whoopi Goldberg. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.Em 1967, após uma sessão com um psicanalista que nunca havia visto antes, Susanna Kaysen (Winona Ryder) foi diagnosticada como vítima de "Ordem Incerta de Personalidade" - uma aflição com sintomas tão ambíguos que qualquer garota adolescente pode ser enquadrada. Enviada para um hospital psiquiátrico, onde viveu nos 2 anos seguintes, ela conhece um novo mundo, de jovens garotas sedutoras e transtornadas. Entre elas está Lisa (Angelina Jolie), uma charmosa sociopata que organiza uma fuga com Susanna, Daisy e Polly, com o intuito de retomarem suas vidas.


Você pode comprar o filme aqui http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/652527/garota-interrompida-dvd4/?ID=BD47297A7DB041C0F080A0853


Postado por: Mariana Cunha

terça-feira, 26 de abril de 2011

O Concretismo no livro Circo de Palavras

               Como já sabemos, o concretismo é o estilo de fazer poesia diferente dos padrões dos versos tradicionais .Ele  explora a  sonoridade, a aparência visual e os diversos sentidos  das palavras. No livro  que estamos trabalhando, Circo de Palavras, Millôr Fernandes utiliza essa tendência  para gerar humor e ampliar o sentido de seus textos.  Podemos observar as características concretistas nos textos Poesia Cinética I e Poesia Cinética II, em que Millôr faz uma  ligação com o  conteúdo  do texto  e  o  título,  já que o mesmo  relaciona-se a movimento.
              Em Poesia Cinética I, o autor se utiliza da maneira como as palavras  estão dispostas na página para fazer o leitor visualizar o movimento de um homem bêbado e também como esse indivíduo percebe o mundo à sua volta. O arranjo das palavras para  gerar movimento  é feito semelhantemente em Poesia Cinética II, que transmite ao leitor a escada na qual o personagem sobe para encontrar a amada. Além disso, esse texto também expõe o movimento do apaixonado rolando quando ele é surpreendido pelo pai da garota. Observe essas duas poesias abaixo:

Poesia Cinética I

Poesia Cinética II



Aproveitando a postagem de Rebeca (que contém o tipo tradicional e o concretista de fazer poesia) e as informações dessa postagem, exponha sua opinião a respeito da discussão que a Professora Helena levantou em sala: Qual é o tipo de poesia que tem o maior grau de elaboração: a tendência tradicional ou a concreta?  Veja as poesias que estão no blog para mostrar seu ponto de vista.

Fonte: Livro Circo de Palavras, páginas 37 e 38.

Postado por: Thayana Maria Navarro Ribeiro de Lima

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Poesia concreta!

      As poesias concretas são aquelas que não seguem a ordem "correta" adotada pela maioria dos artistas como Carlos Drumond de Andrade , Vinicius de Moraes, e Luís Vaz de Camões. As poesias concretas apresentam uma nova estrutura, e muitas vezes uma ídeia subetendita, não expressa claramente. Vejam a seguir exemplos e comparações de poesias:
                      
Memórias  

Amar o perdido

deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido

contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis
à palma da mão.   
Mas as coisas findas,

muito mais que lindas,
essas ficarão.                    


        

















Poesia concreta : Artigo 6
         
        As diferenças estão na estrutura, pois os poemas concretos extinguem o verso, exploram a sonoridade das palavras, sua decomposição e a possibilidade de diferentes interpretações; já na poesia memórias, observamos o uso do versos, da rima e estrutura convencional.
        Aqui estão mais exemplos de poesias concretas:


       Como debatemos a poesia do homem e mulher na aula, resolvi posta-la para que tenham maior contato, e tirem suas proprias interpretações:

Postado por : Rebeca Miranda 


domingo, 24 de abril de 2011

O vitral


Desde muito, ela sabia que o aniversário, este ano, seria num domingo. Mas só quando faltavam quatro ou seis semanas, começara a ver na coincidência uma promessa de alegrias incomuns e convidara o esposo a tirarem um retrato. Acreditava que este haveria de apreender seu júbilo, do mesmo modo que o da Primeira Comunhão retivera para sempre os cânticos.
- Ora... Temos tantos... - respondera o homem. - Se tivéssemos filhos... Aí, bem. Mas nós dois! Para que retratos? Dois velhos!
A mão esquerda, erguida, com o indicador e o médio afastados, parecia fazer da solidão uma coisa tangível - e ela se reconhecera com tristeza no dedo menor, mais fino e recurvo. Prendera grampos aos cabelos negros, lisos, partidos ao meio, e levantara-se.
- Está bem. Você não quer... (A voz nasalada, contida, era um velho sinal de desgosto).
- Suas tolices, Matilde... Quando é isso?
Como se a idéia a envergonhasse, ela inclinara a cabeça:
- Em setembro - dissera. - No dia vinte e quatro. Cai num domingo e eu...
- Ah! Uma comemoração - interrompera o esposo. - Vinte anos de casamento...
Um retrato ameno e primaveril. Como nós.

Na véspera do aniversário, ao deitar-se, ela ainda lembrara essas palavras purificara-se da ironia e as repetira em segredo, sentindo-se reconduzida ao estado de espírito que lhe advinha na infância, em noites semelhantes: um oscilar entre a espera de alegrias e o receio de não as obter.
Agora, ali estava o domingo, claro e tépido, com réstias de sol no mosaico, no leito, nas paredes, mas não com as alegrias sonhadas, sem o que tudo o mais se tornava inexpressivo.
- Se você não quiser, eu não faço questão do retrato - disse ela. Foi tolice.
- O fotógrafo já deve estar esperando. Por que não muda o penteado? Ainda há tempo.
- Não. Vou assim mesmo.
 Abriu a porta, saíram. Flutuavam raras nuvens brancas; as folhas das aglaias tinham um brilho fosco. Ela deu o braço ao marido e sentiu, com espanto, uma anunciação de alegrias no ar, como se algo em seu íntimo aguardasse aquele gesto.
Seguiram. Soprou um vento brusco, uma janela se abriu, o sol flamejou nos vidros. Uma voz forte de mulher principiou a cantar, extinguiu-se, a música de um acordeão despontou indecisa, cresceu. E quando o sino da Matriz começou a vibrar, com uma paz inabalável e sóbria, ela verificou exultante que o retrato não ficaria vazio: a insubstancial riqueza daqueles minutos o animaria para sempre.
- Manhã linda! - murmurou. - Hoje eu queria ser menina.
- Você é.
A afirmativa podia ser uma censura, mas foi como um descobrimento que Matilde a aceitou. Seu coração bateu forte, ela sentiu-se capaz de rir muito, de extensas caminhadas, e lamentou que o marido, circunspecto, mudo, estivesse alheio à sua exultação. Guardaria, assim, através dos anos, uma alegria solitária, da qual Antônio para sempre estaria ausente.
Mas quem poderia assegurar, refletiu, que ele era, não um participante de seu júbilo, mas a causa mesma de tudo o que naquele instante sentia; e que sem ele o mundo e suas belezas não teriam sentido?
Estas perguntas tinham o peso de afirmativas e ela exclamou que se sentia feliz.
- Aproveite - aconselhou ele. - Isso passa.
- Passa. Mas qualquer coisa disto ficará no retrato. Eu sei.
As duas sombras, juntas, resvalavam no muro e na calçada, sobre a qual ressoavam seus passos.
- Não é possível guardar a mínima alegria - disse ele. - Em coisa alguma. Nenhum vitral retém a claridade.
Cinco meninas apareceram na esquina, os vestidos de cambraia parecendo-lhes comunicar sua leveza, ruidosas, perseguindo-se, entregues à infância e ao domingo que fluíam com força através delas. Atravessaram a rua, abriram um portão, desapareceram.
Ela apertou o braço do marido e sorriu, a sentir que um júbilo quase angustioso jorrava de seu íntimo. Compreendera que tudo aquilo era inapreensível: enganara-se ou subestimara o instante ao julgar que poderia guardá-lo. "Que este momento me possua, me ilumine e desapareça” - pensava. – “Eu o vivi. Eu o estou vivendo".
Sentia que a luz do sol a trespassava, como a um vitral.

 Osman Lins

Postado por: Maria Luíza Alves de Medeiros

sexta-feira, 22 de abril de 2011

João do Vale

      João do Vale, falecido há nove anos em 6 de dezembro, deixou canções com letras fortes e contagiantes que alegram festas e forrós, mas que muita gente desconhece serem de sua autoria. Carcará, Pisa na fulô, Na asa do vento, A voz do povo, Sina de caboclo, “Coroné” Antonio Bento são algumas delas.
      João cantou as dificuldades da vida de sertanejo pobre, que conheceu muito bem, e as alegrias e o orgulho de ser compositor/cantor reconhecido e muito querido por colegas de infância e por expoentes da música popular brasileira, como Chico Buarque, Nara Leão, Zé Kéti, Edu Lobo, entre outros.
     Nascido em Pedreiras em 1934, interior do Maranhão, começou a trabalhar ainda menino, e aos 13 anos mudou-se para São Luís, onde participou de um grupo de bumba-meu-boi já compondo versos. Depois, já no sul do país trabalhou como ajudante de caminhão, mineiro em Teófilo Otoni e, ao chegar ao Rio em 1950, foi empregado na construção civil, como pedreiro.
   Com músicas e letras na cabeça, já que não sabia escrever, começou a freqüentar as rádios com a intenção de mostrá-las a artistas. Em 1950, conseguiu que Zé Gonzaga gravasse Cesário Pinto, que faria sucesso no nordeste. E em 1953, foi apresentado por Luiz Vieira a uma das “rainhas do rádio”, Marlene, que gravou sua Estrela Miúda que, tocada nas rádios, fez sucesso no Rio. João contaria depois que, ao ouvir a música no rádio, comentou com os colegas de trabalho, na obra, que era uma música de sua autoria. Eles duvidaram e lhe disseram que o sol quente estava prejudicando seu juízo.
   Dois outros períodos foram muito marcantes em sua carreira. No início dos anos de 1960, conheceu Zé Kéti que o levou para se apresentar no ZiCartola, bar-restaurante de Cartola e Dona Zica que reunia artistas e músicos. Lá foi convidado a participar do show Opinião, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão.
      Opinião, idealizado por Vianinha (Oduvaldo Viana Filho), Paulo Pontes e Armando Costa e dirigido por Augusto Boal, estreou em dezembro de 1964, foi assistido por mais de 25 mil pessoas só no Rio de Janeiro, e levado a outros estados, constitui-se num marco de resistência artística ao regime ditatorial vigente no país. Este show, que lançou também Maria Bethânia (que substituiu Nara), com sua marcante interpretação de Carcará, foi relançado anos depois em 1975, com Zé Kéti e Maria Medalha, sob direção de Bibi Ferreira.
     No final dos anos 70, comandaria o “Forró Forrado” no Catete, casa de forró, democrática, que reunia um público amplo: estudantes, intelectuais, trabalhadores das obras do metrô. João recebia convidados como Chico Buarque, Edu Lobo, Zé Ramalho, Djavan, sempre animando as sextas-feiras.
     Em 1981, com direção de produção de Chico Buarque, Fagner e Fernando Faro, João do Vale grava um belíssimo disco com participações especiais de Chico Buarque, Jackson do Pandeiro, Nara Leão, Fagner, Tom Jobim, Gonzaguinha, Clara Nunes, Zé Ramalho, Amelinha e Alceu Valença, atualmente disponível em CD.
     Na década de 1990, vários shows beneficentes, em sua homenagem foram realizados, num período em que João do Vale já não conseguia cantar, devido a sequela de “derrame”. E nesse mesmo sentido, em 1995, Chico Buarque produziu um segundo disco com interpretações também de vários artistas, alguns que já tinham gravado sucessos seus, como Maria Bethânia, Ivon Cury, Luiz Vieira, Marinês, além da participação de Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Alcione, entre outros.
      Novas homenagens e resgate de sua história seguiram-se após sua morte, como o livro Pisa na Fulô. O CD Carcarás da Cidade - Um tributo a João do Vale, lançado pelo selo da Prefeitura de Nova Iguaçu, onde João do Vale morou por cerca de vinte anos; João do Vale mais coragem do que homem, de Andréa Oliveira (Edufitia) e o documentário João do Vale – muita gente desconhece, de Werinton Kermes.
       Com isso, percebe-se que João de Vale é realmente desconhecido pelo nosso povo brasileiro mas é realmente uma das figuras mais importantes da música popular brasileira, pela sua genialidade ao compor músicas, mesmo sem ter estudado e vê como é rica as suas letras.

Aqui está uma de suas composições:

Minha História
Seu moço, quer saber, eu vou cantar num baião
Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção
Eu vendia pirolito, arroz doce, mungunzá
Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar (x2)
E quando era de noitinha, a meninada ia brincar
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar:
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar(x2)
Hoje todo são "doutô", eu continuo joão ninguém
Mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos "doutô", basta pra me sentir bem(x2)
Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz,
Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis
E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz(x2)
Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão,
Que também foram meus colegas , e continuam no sertão
Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião.

Portado por: Sílvia Claudino

Dica de Filme: Cisne Negro

Nome Original: Black Swan
Ano de lançamento: 2010
Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Winona Ryder, Barbara Hershey, Benjamin Millepied.
Roteiro: Andres Reinz e Mark Heyman, baseado na história de Andres Reinz.
Produção: Scott Franklin, Mike Medavoy, Arnold Messer e Brian Oliver
Trilha Sonora: Clint Mansell
Fotografia: Mattew Libatique 
Direção de Arte: David Stain
Distribuidora: 20th Fox Film Corporation
Figurino: Amy Westcott
Sinopse: Cisne Negro é um thriller psicológico que se passa no mundo do balé da Cidade de Nova York. Natalie Portman (vencedora do Oscar de Melhor atriz) interpreta uma bailarina de destaque que se encontra presa a uma teia de intrigas e competição com uma nova rival interpreta por Mila Kunis. Dirigido por Darren Aronofsky (O Lutador, Fonte da Vida), Cisne Negro faz uma viagem emocionante e às vezes aterrorizante à psique de uma jovem bailarina, cujo papel principal como a Rainha dos Cisnes acaba sendo uma peça fundamental para que ela se torne uma dançarina assustadoramente perfeita. 
Gênero: Suspense
Duração: 108 minutos


Aqui: http://www.blackswanexperience.com/ você pode descobrir se é "Cisne Negro" ou "Cisne Branco"
O DVD do filme já foi lançado, no dia 29 de março de 2011, porém ainda não há previsão de chegada aqui no Brasil.


(PS: Deveria ter postado ontem, mas estava sem internet. As dicas de filme serão nas quintas-feiras.)





Postado por: Mariana Cunha

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Inocência - Visconde de Taunay

Inocência se passa nos sertões do Mato Grosso e nos conta a história de Cirino, um médico charlatão, que em sua jornada cruza caminho com Pereira, um sertanejo machista e ignorante, que logo o convida para o conforto de sua casa em troca de seus favores médicos para a sua filha Inocência. Os dois se apaixonam, porém Cirino oculta seus sentimentos ao mais novo amigo.
Pereira acaba acolhendo mais dois viajantes à sua humilde casa, o alemão Meyer e o seu companheiro, que viajavam pelos sertões em busca de borboletas, e que traz consigo uma carta de recomendação endereçada à Pereira, de seu irmão mais velho.
Logo, Pereira o acolhe como alguém da família, o apresentando a filha, que alheio aos costumes sertanejos passa a elogiá-la, gerando desconfianças da parte de Pereira, que passa a vigiá-lo de perto. Aproveitando a oportunidade, Cirino passa a se aproximar mais da garota, cada vez mais apaixonado, chegando a até a querer compartilhar o sofrimento de sua doença.
O amor os consumia a fogo lento, mas como podiam se amar abertamente, se a idéia era reprovada por seu pai?
Com a descoberta de um novo espécime de borboleta, dada o nome de Papilio Innocentia, em homenagem à própria garota, Meyer decide partir e acaba dificultando os encontros noturnos entre o casal apaixonado, já que a atenção de Pereira seria voltada a Cirino. Em um último encontro, ela lhe pede que fale com seu padrinho para que por eles interceda.
Enquanto Cirino está fora, Manecão, o noivo de Inocência, retorna e ela demonstra toda sua repulsa sobre o casamento. Desonrado, ele sai à procura daquele que poderia ter enfeitiçado sua noiva, e descobre a verdade por um dos criados, o anão Tico, que ficava a espreita durante os encontros entre os amantes.

  “Decididamente lhe agradava aquêle médico: curava do seu corpo enfermo e entendia-lhe com a alma. Raros homens que não seu pai e Manecão, além dos pretos velhos, tinha até então visto; mas a ela, tão ignorante das coisas e do mundo, parecia-lhe que ente algum nem de longe poderia ser comparado em elegância e beleza a esse que lhe ficava agora em frente. Depois, que cadeia misteriosa de simpatia a ia prendendo àquele estranho, simples viajante que via hoje, para, sem dúvida, nunca mais tornar vê-lo?”

    Inocência é um romance de transição entre os movimentos Romântico e Naturalista, possuindo assim características de ambos os movimentos. Foi um dos romances mais singelos e cativantes que já li, e que possui grande peso, já que contribuiu para que me apaixonasse, de fato, pela Literatura Brasileira.
Visconde de Taunay consegue nos cativar com sua minúcia de detalhes e a forma como explora o rico cenário do sertão do Mato Grosso, fazendo menção aos costumes e a linguagem regional, e a cada descrição de personalidades, desde a doce e pura Inocência até o atrapalhado alemão Meyer.
A obra retrata o amor inocente entre os dois jovens Cirino e Inocência, que muitas vezes é considerado impossível, já que não condiz a vontade do pai dela. Vemos também a formação de triângulos amorosos, dependendo do personagem referencial. Não considero uma obra clichê, mesmo que o tema seja o comum: amor impossível. Há diferenciais, mesmo que estes sejam os costumes sertanejos.
Um dos temas abordados que mais me chamou atenção, e me desagradou, foi a descrição machista da figura feminina como submissa, destinada a apenas cuidar da casa, dos filhos e de sua costura. Observamos diversas vezes, o próprio Pereira falando de sua filha. Mas não podemos esquecer de que se trata de uma obra do século XVIII.
Recomendo a obra por ter um excelente enredo, além de ser de fácil entendimento. Bom, quem possuir interesse em ler Inocência, encontramos ela disponível para download e, fazendo uma pesquisa, encontrei diversos exemplares da obra na biblioteca da escola.   

 
Postado por: Laís Costa Guerra

terça-feira, 19 de abril de 2011

Novo design !

Oi pessoal,

Espero que tenham gostado do novo visual do blog, está diferente do antigo, mas espero agradar a todos. Qualquer sugestão ou objeção, podem deixar nos comentários...

Postado por: Rebeca Miranda 

Concretismo: poema-ícone

Uma das tendências da literatura contemporânea é o concretismo. Suas características gerais na literatura são: o banimento do verso, o aproveitamento do espaço do papel, a valorização do conteúdo sonoro e visual, possibilidade de diversas leituras através de diferentes ângulos. Os principais poetas que desenvolveram o movimento concretista foram: Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Exemplos de poesias concretas:







                    http://www.poesiaconcreta.com.br/

Fonte: Brasil Escola - Disponível em: http://www.brasilescola.com/literatura/concretismo.htm
   
Postado por: Thayana Maria Navarro Ribeiro de Lima

Convite

Convite
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.


Só que
bola, papagaio,pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.

Como cada dia
que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

Fonte: Jornal de Poesia - Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/jpaulo1.html

Postado por: Rebeca Miranda Beltrão de Oliveira

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Paródia

       A paródia tem como elemento principal, na maioria das vezes, a comédia, ou seja, a partir da estrutura de um poema, música, filme, obras de arte ou qualquer gênero que tenha um enredo que possa ser modificado. Mantém-se o esqueleto, isto é, características que remetam à produção original, como por exemplo o ritmo – no caso de canções – mas modifica-se o sentido. Com cunho, em muitos casos, cômico, provocativo e/ou retratação de algum tema que esteja em alta no contexto abordado (Brasil, mundo política, esporte, entre outros).

      O novo contexto empregado à estrutura do que já existia passa por um processo deintertextualização  para o leitor, ouvinte, espectador. Para compreender a intenção da paródia, às vezes, é necessário um pré-conhecimento do objeto inicial, por isso, em geral, opta-se por parodiar obras que sejam conhecidas pelo público a ser atingido. Utilizada também em propagandas, a paródia é um meio de familiarizar o produto em questão com as pessoas alvo. 
       Esse gênero textual até encontra um lugar em meio às leis brasileiras, que diz o seguinte: “Segundo a lei brasileira sobre direitos autorais, Lei 9.610/98 Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito”. Essa permissão deve existir em função de a paródia ter se tornado uma ferramenta usada em muitos meios e profissões com os mais variados fins.


Fonte: http://www.infoescola.com/generos-literarios/parodia/


Postado por: Débora Silva Ramos

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Retrato - Millôr Fernandes

Retrato 


Comendo em cantos                                                Ante seu dono
Desconfiado                                                              Um ódio enterno
Quente e lustroso                                                      A seu inimigo
Curvo e sedoso                                                         Expressão mística
Esgar de boca                                                           De um Egito antigo
Rasgado grito                                                            Olhos de outrora
Quando assustado                                                    Se entramos tarde
Bigode hirto                                                               De madrugada
Andar felino                                                                Ou é luz morna
E feminino                                                                  Quando entardece 
Olhar que acende                                                      Tem infantil
À luz que apaga                                                         Uma pata esquerda
A ronroneira                                                               Que rola a bola,
Quando ressona                                                        Que rola o rolo,
O enconlhimento                                                        Que furta o bolo.
Antes do salto                                                            Esse o retrato
Filosofia                                                                      De um bicho esquivo
Do dia-a-dia                                                               Chamado gato.   
Falso abandono                                                       




Fonte: Livro Circo de Palavras pág. 52-53


Postado por: Tábata Silva Ramos