terça-feira, 7 de junho de 2011

O narrador no Memorialismo

          A construção do perfil do narrador memorialista se dá pelo entendimento do que é memória para a literatura. Memória é o resgate e a futura transformação de uma lembrança para a linguagem escrita. Dessa forma, o narrador se dá a conhecer como personagem, ou seja, como indivíduo que direta ou indiretamente participou do fato contado. A história adquire um caráter de primeira pessoa pela presença desse narrador.
            Porém, vale ressaltar que essa “voz” condutora dos relatos pode se apresentar em terceira pessoa, contanto que não intervenha com opiniões e que o leitor não tenha dela qualquer outra informação além dos traços lingüísticos. O narrador memorialista também pode ser protagonista ou testemunha. Em ambos os casos ele é personagem, mas no primeiro, o narrador está no centro dos acontecimentos e no segundo, a “voz” que conduz o texto está à margem do fato principal.
            Com o uso do narrador personagem protagonista, o leitor pode conhecer aspectos subjetivos de sua “experiência”, ou seja, quais são seus sentimentos e opiniões. Além disso, se desenvolve o efeito de realidade que ocorre justamente pela visão parcial do evento narrado. Assim, as obras que apresentam um “eu” protagonista são enigmáticas por mostrarem apenas uma seleção das ações mais viáveis para o narrador.
            Nos textos em que o narrador é testemunha também existe a utilização do efeito de realidade, mas há um olhar mais distante daquilo que é narrado. Por fim, o “eu” testemunha irá exercer perfeitamente sua função de observação e comentário dos eventos. Seguem fragmentos de dois contos que trazem memórias, o primeiro traz um narrador protagonista e o segundo um narrador testemunha. 

"Acordei  cedinho  naquele dia. Corri  para o sótão a  fim de fazer a limpeza mensal. Há séculos  que  não o limpava. Casas  antigas possuem essas magias de quartos fechados e desejos  guardados. Ao entrar, percebi o cheiro de passado entrando violentamente  pelas  narinas."  (Fragmento de "Borboletas Noturnas")
                                     
 "Nem sei quantos gritos eu ouvi quando dobrei o quarteirão. O outro estava na calçada fazendo uma pilha dos livros que ia encontrando dentro de casa. Clarices, Quintanas, Baudelaires, Rimbaud, todos voando pela janela num ato de fúria louco. Eram ciúmes de quem me alegrava a alma todos os dias. Nem sei o que senti. Aproximei-me em estado de profundo descrédito, e dor a fim de entender a cena."  (Fragmento de "Fogueiras")


Fontes:
LIMEIRA, Dora. Histórias de Sábado (Borboletas Noturnas). João Pessoa: Gráfica e Editora Liceu, 2008. Página 40

LIMEIRA, Dora. Histórias de Sábado (Fogueiras). João Pessoa: Gráfica e Editora Liceu, 2008. Página 41

Postado por: Thayana Maria Navarro Ribeiro de Lima

2 comentários:

  1. Chama-se memórias ao gênero de literatura em que o narrador conta fatos da sua vida. É tipicamente um gênero do modo narrativo, assim como a novela e o conto, porém essa classificação é predominantemente atribuída a histórias verídicas ou baseadas em fatos reais. Diferencia-se da biografia pois não se prende a contar a vida de alguém em particular, mas sim narrar as suas lembranças.

    Guilianne Morón

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  2. Com certeza isso me ajudará muito para entender mais sobre o memorialismo.

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